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           Aristóteles, na Poética, afirma que os piores mythoi e praxeis simples são os epeisodiôdeis, ou seja, aqueles nos quais os episódios se ligam entre si sem necessidade e verossimilhança (cap. 9). Todavia, ao comparar a guerra de Troia, que tem um começo e um fim, com a Ilíada, que é uma parte dela, ele elogia o uso de episódios daquela que estão fora desta, como o catálogo das naus, (cap. 23). É nesse trecho que ele critica o autor dos Cantos cíprios e da Pequena Ilíada.

          O objetivo central deste colóquio não é reavaliar a poética aristotélica, mas, a partir do modo como define e qualifica suas noções de episódio e ação / enredo uno, discutir de que forma essa polaridade e outras homólogas a ela estão presente em gêneros poéticos e formas de discurso que antecedem e sucedem a formulação basilar aristotélica.

           A discussão é diversa em gêneros e épocas distintas, bem como na recepção e análise moderna desses mesmos gêneros. Assim, por exemplo, para uma parte expressiva da crítica, a estrutura episódica de um poema ou discurso seriam testemunhas de seu caráter oral. Até pouco tempo atrás, o caráter episódico de tragédias como Troianas e Andrômaca eram um claro sinal de sua inferioridade. Boa parte da crítica moderna de Píndaro foi atrás da ideia una como pedra de toque para a compreensão de poemas com partes à primeira vista díspares. Heliodoro ainda é considerado por muitos o melhor do romancistas em parte porque a estrutura da sua narrativa é menos episódica do que a dos demais.

          O que se pretende, portanto, é uma reavaliação, no âmbito da literatura grega, de narrativas compostas de forma supostamente paratática e de composições que usaram narrativas dessa forma, por exemplo, os epinícios pindáricos e Trabalhos e dias de Hesíodo. Propõe-se uma discussão que examine que estratégias de comunicação são pressupostas por uma composição em trechos mais ou menos discretos.

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